
É fato que em situações de conflitos armados, violações aos Direitos Humanos ocorrem e com freqüência. Na sociedade da informação, “o direito a ter direitos” – utilizando frase de Hannah Arendt – está em grande parte associado à atuação da mídia, responsável por denunciar seus desrespeitos e promover o debate público. Entretanto, é preciso haver cautela ao delegar aos meios de comunicação a promoção da sensibilização social em situações de conflito.
No século XX, os mass media conquistaram espaço relevante nas interações sociais. A História da cobertura das guerras mostra que exercer o controle sobre os meios de comunicação é uma estratégia crucial para os governos beligerantes.
Em 2003, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, condenou três jornalistas por utilizarem a mídia para incitar o genocídio que matou entre 500 e 800 mil pessoas, em 1994. O caso ficou conhecido como ‘Mídia do Ódio’ e entre os condenados estavam o ex-diretor da Radio Television Libre des Miles Colines, que apoiava o assassinato da minoria Tutsi, transmitindo frases como “matem as baratas”. E o editor do jornal extremista Hutu, Kangura, que divulgava listas de extermínio.
Na invasão ao Iraque, a mídia norte-americana também apoiou por um período a administração Bush, em 2003. Raramente ela questionou a argumentação – depois, comprovadamente falsa - de que Saddam Hussein comprara urânio enriquecido do Níger, com o propósito de fabricar armas de destruição em massa. No campo de batalha, a estratégia da informação limitou a atuação dos jornalistas com a implementação dos embeddings. A insatisfação com a imprensa se mostrou notória, principalmente, nos discursos do ex-Secretário da Defesa, Donald Rumsfield. O fim desse posicionamento complacente ocorreu em 2004, com o “escândalo” de Abu Ghraib e as graves denúncias acerca da prisão de Guantánamo. Somente após a divulgação, na imprensa mundial, de fotos chocantes que retratavam os soldados da coalizão torturando prisioneiros de guerra é que foi questionada a negligência dos valores éticos no conflito, e colocou-se em pauta o desrespeito dos Estados Unidos aos Direitos Humanos e às Convenções de Genebra.
Outro desafio acerca da promoção dos Direitos Humanos na experiência cotidiana encontra-se na atuação das grandes corporações da mídia. A concentração dos setores da comunicação traz como conseqüência a difusão de discursos limitados geograficamente e monofônicos culturalmente. De acordo com a UNESCO, as maiores agências internacionais de notícias - Reuters, Associated Press, Agence France Press - representam 80% da fonte de informações que abastece a opinião pública mundial. Devido ao seu poder no mercado global da informação, cria-se uma dinâmica na qual somente aquilo que é noticiado por essas mídias recebe atenção internacional. Assim, a opinião pública global se torna inefável perante inúmeras violações aos Direitos Humanos as quais não são assimiladas à memória coletiva. Uma vez que não é possível zerar o cronômetro da História, o cultivo à memória e o incentivo ao perdão são condições essenciais para se evitar as atrocidades cometidas pelo homem ao longo do tempo. Como diz Morin: “perdoar é resistir à crueldade do mundo”.
O atual conflito em Darfur, ficou por muito tempo fora da agenda de notícias porque jornalistas acreditavam que o público simplesmente não se interessava. O fato de ter sido necessária cobertura intensa da mídia internacional para haver mobilização, levou o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a afirmar que essa situação “é uma vergonha, não só para o Sudão, mas para o mundo inteiro”.
No cenário internacional contemporâneo, é indiscutível que as imagens e discursos transmitidos pela mídia são capazes de mobilizar a sociedade internacional. O problema é que esses discursos apresentam-se desprovidos de motivação em construir uma cultura que valorize o respeito à dignidade humana e o exercício da cidadania. Em 2006, uma pesquisa realizada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância e pela Secretária Especial de Direitos Humanos, concluiu que na imprensa brasileira, o tema “Direitos Humanos” é tratado de forma genérica, desbalanceada e sem perspectiva histórica.
É fundamental a criação de espaços discursivos livres que promovam o respeito aos Direitos Humanos de uma forma universalizável. É mister uma estratégia da informação capaz de auxiliar as forças de paz no âmbito das instituições internacionais e da sociedade civil. Ressalta-se nessa tarefa o papel das mídias alternativas como opção aos discursos das grandes agências de notícia internacionais. A necessidade de uma mídia pluralista, democrática e independente não é responsabilidade só de jornalistas, mas de toda sociedade mundial que, diariamente, observa sua História sendo registrada de maneira omissa e insensível.
Autora: Júlia Faria Camargo - Professora do Curso de Relações Internacionais
Postado por: Equipe de Edição.






Caro leitor, muito provavelmente você deve ter reconhecido a imagem acima ou, pelo menos, se perguntar onde viu esse nome: Watchmen? O título da mais nova adaptação de uma Graphic Novel (HQ, quadrinho ou gibi como preferir) aos cinemas por Zack Snyder, o mesmo diretor de 300, está em todas as mídias, principalmente, na internet. Talvez por isso você esteja se perguntando “até aqui?” em um Blog que pretende discutir as Relações Internacionais de um ponto de vista quase “periférico” que é o da região amazônica. Espero que ao final desse texto você também tenha compreendido que Watchmen tem tudo a ver com as Relações Internacionais (RI).



