quinta-feira, 19 de março de 2009

Kubrick: O gênio do cinema.


Kubrick:

O gênio do cinema.



Nascido em 26 de julho de 1928, no Bronx, em Nova York, Stanley Kubrick foi e continuará sendo um gênio das artes cinematográficas. Perfeccionista, o mesmo teve suas produções renegadas pela Academia diversas vezes, e hoje faz uma imensa falta no cinema. Entre suas produções estão Laranja Mecânica, Nascido Para Matar, Dr. Fantástico e entre tantos que hoje geram debates e discussões, do amado pela crítica e público. Marcado por uma carreira considerada “agourenta”, Kubrick nunca deixou de acreditar no potencial de seus filmes, e assim se glorifica como o mestre do cinema moderno.

Stanley Kubrick estava além de seu tempo, não gostava de ser filmado, nem fotografado. Era um doente detalhista, brigou com o governo do Reino Unido, fazia críticas sociais e adorava política. Dr. Fantástico (Dr. Strangelove or How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb) é um de seus aclamados filmes políticos. Com um roteiro indicado ao Oscar escrito por Kubrick, a história baseada no livro Alerta Vermelho girava em torno de um general enlouquecido pela Guerra Fria e ordena um ataque nuclear à União Soviética, e não percebe que isso poderia causar a Terceira Guerra Mundial. A comédia de Kubrick é uma ironia a bipolarização do mundo e traz discussões sobre conceitos éticos e maniqueísmo. Dr. Fantástico seria lançado nos cinemas americanos em dezembro de 1963, mas sua estréia terminou sendo adiada para o ano seguinte devido à proximidade com o assassinato do presidente americano John F. Kennedy, que ocorreu em 22 de novembro de 1963.

Outra obra atemporal de Kubrick é Laranja Mecânica (A Clockwork Orange). O filme se passa no futuro, sem uma data exata. Somos apresentados a Alex (Malcom Mc Dowell) e sua gangue os denominados “droogs”, estes se divertem sempre à custa da tragédia das pessoas. Alex cai nas mãos da polícia. Preso este é usado como experimento pelo governo, o mesmo acaba com os impulsos maléficos do cidadão, mas a experiência acaba falhando. Laranja Mecânica pode ser considerada a obra mais polêmica e respeitada do diretor, a mesma foi banida do Reino Unido por mais de vinte anos. Baseado no livro de Anthony Burgess, hoje é reverenciado, mas na época “paz e amor” dos anos 70 foi diferente. Jovens da Inglaterra levaram o filme à sério demais, e repetiam a violência do cinema na vida real, e quando julgados a justificativa dos mesmos era a influência negativa do filme de Kubrick. Irritado, o cineasta declarou que o filme só seria exibido no Reino Unido após sua morte, e assim foi feito.

Ainda no campo da política internacional surge o realista Nascido Para Matar (Full Metal Jacket). O filme apresenta o horror enfrentado por jovens militares treinados para a Guerra do Vietnã. O longa-metragem é apresentado em duas partes, na primeira hora nos deparamos com o cruel treinamento militar de um sargento fanático que quer transformar os militares em máquinas de matar, e depois na própria guerra aonde eles vão se deparar com temores tão grandes quanto à morte. O roteiro do filme foi escrito por Stanley Kubrick e seu amigo Michael Herr, que participou como correspondente na guerra, trazendo uma realidade quase insuportável, onde o diretor primou por cenas violentas. Novas críticas ao governo americano, e humor negro com os estúdios Walt Disney são o forte do filme. Na época de seu lançamento foi deixado de lado, pois Platoon de Oliver Stone já tinha sido lançado antes e feito bastante sucesso. Uma injustiça tremenda, pois a obra de Kubrick é tão boa quanto à do colega de profissão Stone.

O cineasta faleceu no ano de 1999, seu último filme foi De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut). Não conseguiu realizar o projeto A.I – Inteligência Artificial (Artificial Inteligence) engavetado por mais de 20 anos. Antes da pré-produção do filme morreu, e o projeto passou pro cineasta Steven Spielberg que fez um filme competente, mas que não lembra em nada a visão realista e genial de Kubrick. O legado cinematográfico de Stanley Kubrick ficará marcado na história, ele em minha opinião foi o maior cineasta que existiu, e que continuará vivo nas suas obras cinematográficas.

por: Lucas Brilhante Veloso

domingo, 15 de março de 2009

Watchmen e as Relações Internacionais

Caro leitor, muito provavelmente você deve ter reconhecido a imagem acima ou, pelo menos, se perguntar onde viu esse nome: Watchmen? O título da mais nova adaptação de uma Graphic Novel (HQ, quadrinho ou gibi como preferir) aos cinemas por Zack Snyder, o mesmo diretor de 300, está em todas as mídias, principalmente, na internet. Talvez por isso você esteja se perguntando “até aqui?” em um Blog que pretende discutir as Relações Internacionais de um ponto de vista quase “periférico” que é o da região amazônica. Espero que ao final desse texto você também tenha compreendido que Watchmen tem tudo a ver com as Relações Internacionais (RI).
Mas o que fez a obra prima de Alan Moore e Dave Gibbons tão famosa, ao ponto de sua frase clássica “Who Watches The Watchmen?” (Quem vigia os vigilantes?) ter sido usada por uma juíza no prefácio de uma petição de busca e apreensão de acusados de pertencer a milícias do Rio de Janeiro? O prestígio de Watchmen tem mais a ver com a revolução que a obra fez no mundo dos quadrinhos ao criticar/parodiar personagens já consagrados tratando esses vigilantes fantasiados como seres reais de um mundo real, com problemas e questões morais que podem ocorrer com qualquer ser humano, principalmente, aqueles que viveram a Guerra Fria. Outro fator é que Watchmen utiliza de uma maneira nunca vista antes todas as possibilidades narrativas que esse tipo de arte permite. Mas como já foi citado acima este texto tem o objetivo de mostrar que é possível estudar Relações Internacionais por meio de um “gibi”.
A trama principal de Watchmen se desenrola basicamente em torno da investigação da morte de Edward Blake que é a indentidade civil do "aventureiro fantasiado" conhecido como Comediante. Quem investiga esse crime é o também “aventureiro fantasiado " Rorschach que acredita que se trata de um plano para eliminar todos os vigilantes mascarados. É Rorschach que de certa forma apresenta a história e os demais personagens por meio da sua investigação. No decorrer da história vão ocorrendo fatos que parecem dar razão às suspeitas de Rorschach.
Em Watchmen é possível ver com clareza o conflito entre os dois modelos econômicos que dividiam o mundo de 1985(ano em que se passa a história que foi publicada em 1986-87) em dois, de um lado temos o capitalismo capitaneado pelos Estados Unidos da América e do outro temos o comunismo da União Soviética.
No decorrer da história descobrimos que o homem assassinado no começo da trama tinha se tornado uma espécie de soldado de elite norte-americano atuando tal qual as verdadeiras tropas de elite americanas fizeram, no combate a movimentos guerrilheiros e governos de esquerda na América do Sul. O exemplo mais contundente foi a operação que culminou no assassinato de Che Guevara. Ele também atuou no cenário mais quente da Guerra Fria: o Vietnam. No quadrinho quem vence a guerra são os Estados Unidos, pois eles contam com a presença do Dr. Manhattan ( logo abaixo você terá uma análise específica sobre esse personagem) e temos o presidente Nixon chegando de helicóptero a Saigon o que permite que ele se reeleja até o período em que acontece a trama.
O físico Jon Osterman é o vigilante que ganha o nome de Dr. Manhattan, uma alusão ao famoso projeto Manhattan que consistiu na criação da primeira ogiva nuclear americana (isto é explícito na HQ). Esse vigilante é o único a ser dotado de poderes sobre humanos, pois na história o físico obtém a capacidade de ver como os átomos se movimentam e até mesmo manipular a matéria após ser desintegrado e se auto-reconstruir em um acidente num centro de pesquisa nuclear estadunidense. Graças ao Dr. Manhattan o mundo de Watchmen pode contar com dirigíveis eficientes, carros elétricos, etc. Estas pequenas invenções proporcionam a diminuição da poluição, isso nos leva a um interessante exercício de reflexão: como seria a vida e a política americana sem a influência das empresas petrolíferas? Mas a maior influência de Osterman é no campo bélico, ele faz pesar a balança do poderio militar para o lado dos EUA. Podemos, então, pensar nele como uma super ogiva nuclear. É por isso que na história a União Soviética só invade o Afeganistão após o auto-exílio em Marte do Dr. Manhattan, ou seja, sem ele há pelo menos um equilíbrio de forças/tecnologia nuclear, como de fato ocorria até o final da década de 1980.
Com a invasão soviética ao Afeganistão ficamos próximos de uma guerra nuclear. A preparação dos militares americanos e o temor da população em relação a tal conflito são magistralmente apresentados em inúmeros quadros. Podemos ver o presidente se abrigando na área 51, projeções de um eventual conflito atômico por parte dos militares, a construção de abrigos nucleares por Nova York e claro a desilusão das pessoas ao se aproximarem da guerra.
A frase “Quem vigia os vigilantes?” é espalhada pelas ruas de Nova York durante uma série de manifestações contrárias à atuação dos vigilantes mascarados que são proibidas em 1977 (apesar da história principal se passar entre Outubro e Dezembro de 1985, os vigilantes mascarados existem desde o final da década de 1930). Mas é bem claro que esta frase na verdade tratasse de uma crítica a atuação da CIA que durante a Guerra Fria, caçou comunistas e suspeitos de conspirar para o Kremlin, nem sempre utilizando métodos legais. Por sinal há suspeitas que o primeiro vigilante mascarado, que em 1938 fica conhecido como Justiceiro Encapuzado (o qual não tinha sua identidade civil revelada), pode ter sido assassinado pela CIA em função de ser um imigrante da Alemanha Oriental, numa passagem que só pode ser descrita como genial.
O personagem Rorschach usa uma máscara branca, com manchas de tinta simétricas pretas que mudam de forma a cada quadro (observe o filme ou a HQ com atenção). A máscara, como seu nome são derivados do famoso teste de Rorschach, um teste criado pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. Explicando rapidamente, esse teste faz uma análise psicológica do indíviduo através da interpretação que o mesmo dá sobre essas “manchas”.
Por meio de Rorschach e suas inúmeras faces Moore e Gibbons nos perguntam a todo momento: “o que você está vendo aqui?” O que achamos sobre a clivagem do mundo em dois blocos econômicos, qual a sua opinião política sobre as nossas ações perante a sociedade, as várias gestões morais apresentadas no decorrer da narrativa e até o que achamos sobre a indústria de quadrinhos?
Então: O que eu vi em Watchmen?
Eu vi um complexo mas divertido modo de estudar as Relações Internacionais.
E você o que ver em Watchmen?

Rafael Vicente da Rocha Chirone