segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O Brasil no mundo que vem por aí: Sobre a III Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional




Pelo terceiro ano consecutivo, professores do Departamento de Relações Internacionais participam da Conferência Nacional de Política Externa e Política Internacional deste evento que é referencia na área de política externa e diplomacia. Procuramos sempre agregar valor ao evento e com isso marcamos uma tradição de participação do único curso de RI em uma IFES da região norte do Brasil. Neste contexto, o estado de Roraima apresenta-se como estratégico no iexo da segurnaça regional sul-americana.

A III CNPEPI foi realizada nos dias 8 e 9 de dezembro de 2008, no Palácio Itamaraty, na cidade do Rio de Janeiro reunindo personalidades das áreas de relações internacionais, ciência política, geografia, história, economia, direito, sociologia e antropologia. Os temas que integraram o programa da “III CNPEPI”, expostos e debatidos por destacados acadêmicos e autoridades foram : 1) América Latina; 2) Estados Unidos; 3) Europa; 4) África e Oriente Médio; 5) Rússia; 6) China, Índia e Japão e 7) Amazônia.

Com relação à temática da Conferência, cabe mencionar a importância crescente e inelutável das relações internacionais para o estado de Roraima. Assim, quando se houve falar na implantação de uma Zona de Livre Comércio e de uma Zona de Processamento de Exportação estamos nos referindo a instrumentos de desenvolvimento nacional aplicados no nível regional que têm vinculação com experiências externas similares no México, China, Ásia e África. Cabe um adendo no sentido de informar que Comércio Exterior é parte integrante das Relações Internacionais, pois enquanto o primeiro trata de normatizações e rotinas procedimentais do comercio internacional, a segunda lida com as repercussões econômico-comerciais na vida das comunidades participantes da Sociedade Global.

Além disso, as relações fronteiriças Brasil, Venezuela e Guiana, em suas dimensões política, econômica e social, preenchem o cotidiano de indivíduos e governantes roraimenses Quando a mídia nacional, local e regional repercute as eleições no Estado Bolivar na Venezuela, a finalização da Ponte sobre o Rio Tacutu, e sua inauguração com a presença do presidente Lula, e as idéias de internacionalização da Amazônia, Roraima coloca-se no epicentro das discussões sobre as relações internacionais.

Portanto, se a “III CNPEPI” teve o propósito de promover diálogo e debate direto entre acadêmicos e diplomatas sobre questões prioritárias do cenário internacional e da política externa brasileira, a inclusão da temática amazônica como parte da conferência é um sinal que o MRE está tomando consciência da importância da Região para a formulação da política exterior do Brasil. Cabe aos internacionalistas formados em cursos de graduação em relações internacionais e aos professores e pesquisadores com sólida formação em RI contribuir para pensar a Amazônia a partir de um viés amazônico.

Escrito por: Thiago Gehre, Historiador de Relações Internacionais, Chefe do Departamento de Relações Internacionais da UFRR

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

CONCENTRAÇÃO FINANCEIRA E INTEGRAÇÃO HORIZONTAL NO SETOR BANCÁRIO BRASILEIRO

Autor: Prof. Elói Martins Senhoras



A concentração bancária existente no Brasil ganhou um novo impulso dinamizador oriundo de uma seqüência de fusões que se processaram segundo estratégias endógenas aos bancos e reflexivas à conjuntura nacional e internacional do sistema financeiro.

O nível de concentração dos ativos financeiros bancários se exacerbou com uma nítida centralização do marketshare nas mãos de um restrito número de 10 grandes grupos que polariza a estrutura interbancária com ativos superiores a R$ 100 bilhões vis-à-vis a existência de uma pluralidade de mais de 130 pequenos bancos com ativos inferiores a R$ 10 bilhões.

A lógica de concentração interbancária no Brasil é considerada uma estratégia ofensiva de integração horizontal via fusões e aquisições que tem sido alimentada por uma conjuntura nacional e internacional com o objetivo de diminuir, de um lado, os custos de transação e a concorrência dos bancos individuais, e de outro lado, os riscos de crise na estrutura setorial bancária advindos dos canais de interdependência financeira de ativos e débitos cruzados.

As prolongadas negociações pré-existentes entre os bancos nem sempre divulgados publicamente se aceleraram no último mês em função da crise internacional que colocou em xeque a saúde de instituições internacionais e indicou possíveis canais de vulnerabilização dos bancos nacionais.

No setor privado, inicialmente, a compra do Banco Real pelo Santander acirrou o ambiente de competitividade entre os bancos, o que repercutiu na formação de uma estratégia agressiva de retaliação pelo Itaú ao comprar o Unibanco, que veio sentir impacto da crise financeira estadunidense em função de ser o responsável pela gerência da seguradora AIG no Brasil.

No setor público, além da recente compra do banco estadual paulista Nossa Caixa pelo Banco do Brasil, observa-se que os bancos controlados pelo União - Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal - estão aproveitando a crise internacional para comprar as carteiras de crédito de bancos privados, dando assim continuidade a uma estratégia governamental de compra de bancos estaduais ao longo da gestão Lula. Enquanto as instituições financeiras particulares restringem a oferta de crédito, os bancos públicos ampliam a concessão de empréstimos ao mercado.

O resultado da configuração concentrada da nova estrutura setorial bancária não traz uma característica suis generis de uma estratégia nacional engendrada pelo setor governamental e respondida pelo setor privado, mas antes reflete uma tendência mundial do último quartil, que faz inserir tardiamente os bancos líderes da estrutura bancária brasileira entre os mais líquidos internacionalmente, porém com um alto poder assimétrico sobre o mercado, o que, porém nem sempre beneficia os clientes finais.





Postado por: Hélio Araújo.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Repercussões e consequencias da eleição nos EUA (2008)

Obama e a outra política das eleições dos Estados Unidos

Elói Martins Senhoras
Economista e cientista político, professor da Universidade Federal de Roraima. eloi@dri.ufrr.br

A corrida à presidência dos Estados Unidos chega à reta final com um ganhador cujo perfil é diferente ao tradicional padrão histórico do país identificado em inglês pela sigla WASP como de origem Branca, Anglo-Saxã e Protestante.
Barack Hussein Obama II não é apenas o primeiro candidato negro a ter tido reais chances de ser eleito, mas seu nome retrata uma nova imagem internacionalizada do americano, cujo pai é queniano mulçumano e de mãe branca protestante do Kansas, que nasce no Havaí, tem passagem pela Indonésia e constrói sua rápida carreira política como parlamentar estatal em 1996 e senador do Estado de Illinois em 2005.

O novo fenômeno político Obama e o surgimento do apoio popular enquanto “Obamania” é visto pelos partidários democratas e um amplo espectro da opinião pública internacional como uma possibilidade de mudança do status quo estadunidense em suas relações nacionais e internacionais.

A aposta em Barack Obama como presidente também foi vista por diversos democratas com ar de dejavour. Desde as eleições primárias, quando concorreu em dura disputa com Hilary Clinton à vaga para candidato presidenciável pelo partido democrata, Obama teria sido comparado por alguns setores com a figura do ex presidente democrata John Fitzgerald Kennedy (JFK). A imagem positiva de um jovem líder que pode ser um empreendedor público para a sociedade se contrapõe de maneira dual à imagem negativa dos riscos de atentado derivados da forte rejeição de alguns setores dos Estados Unidos.

Um ponto importante da chegada de Obama à Casa Branca se refere ao custo total de sua campanha que claramente chama a atenção devido ao maior volume de recursos financeiros em quase três vezes em comparação à campanha do senador McCain oriundo da positiva estratégia de arrecadação via internet. Desde a criação do atual sistema de financiamento das eleições presidenciais criado após o escândalo de corrupção do caso Watergate, Obama tornou-se o primeiro candidato à rejeitar o financiamento público.

Outra discussão relevante na substitutição da administração Bush pela administração Obama é que falsas expectativas não devem existir a respeito de revoluções ou grandiosas inflexões na política estadunidense haja vista que as mudanças no sistema de administração política dos Estados Unidos são graduais e passam por negociações uma vez que o sistema político é bipolarizado – com os Partidos Republicano e Democrata – o que leva a uma conhecida “lei ou tendência de ouro do poder” que direciona os formuladores de políticas a uma via central ou moderada de diálogo entre as partes a fim de não haver processos claros de retaliação e trancamento de pautas.

O gradualismo das políticas públicas vai englobar temas polêmicos como saída das tropas do Iraque até 2010, reversão das políticas fiscais concedidos às classes mais ricas vis-à-vis cortes de impostos para os mais pobres e adoção de políticas econômicas contra problemas estruturais da crise econômica financeira e de déficit gêmeos da dívida publica e balanço comercial, o que possivelmente vai limitar nos dois primeiros anos da gestão altos investimentos em programas sociais estratégicos em saúde e educação e programas tecnológicos na área espacial e de energias renováveis que estavam presentes como promessas políticas.

As transformações na agenda da administração pública são certas de variação, de maneira que as temáticas unilaterais de poder duro do governo Bush abrirão espaço para novas temáticas políticas uma vez que o governo Obama vai contar com uma maioria de parlamentares democratas na Câmera e no Senado, o que se coloca em dúvida é o ritmo dos câmbios que está atrelado aos comprometimentos da administração anterior.


Obama e o novo ciclo democrata na política externa imperial

Thiago Gehre
Historiador de relações internacionais e professor assistente do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima-UFRR. thiago.gehre@gmail.com

No instante em que a vitória de Barack Obama atingiu as projeções esperadas o mundo respirou fundo e se perguntou o que esperar do novo mandatário dos Estados Unidos (EUA). A resposta vem em forma de uma política externa que mescla características estruturantes herdadas dos outros governos e novas concepções de mundo. Não sabemos como as relações internacionais dos EUA serão a partir de 2009, mas não há duvida que a política externa proposta por Obama não será tão diferente daquela imaginada por McCain. Isto porque a inserção internacional dos EUA respeita um quadro dual composto de idéias- força e constrangimentos que auxiliam na montagem de sua grande estratégia de política exterior e que, portanto, neutralizam as tão exaltadas plataformas político-partidárias.

Nesse sentido, é possível conceber 5 grandes eixos que moldarão de alguma forma a nova política externa imperial do governo Obama: a unissonância política, a falência do liberalismo, o dilema étnico-racial, os limites da democracia imperial e os problemas estratégicos contemporâneos. A apreciação destes eixos é importante para trazer luz às prováveis semelhanças da atuação internacional dos dois candidatos, a forma como o novo governo democrata vai se comportar externamente e os espaços de manobra que países periféricos como Brasil terão para atuar na cena regional e global.

Em primeiro lugar, a unissonância política de democratas e republicanos assevera os limites da intocável herança democrática. No mundo político norte-americano burros e elefantes são criaturas muito semelhantes. Durante o processo eleitoral houve a preocupação de ambos os candidatos em buscar uma diferenciação em termos de plataforma política e de imagem diante dos eleitores. A preocupação de ser diferente trilhou os caminhos da construção iconoclástica da cultura pop e da reafirmação tradicionalista de idéias como patriotismo e nacionalismo. O glamour e o ímpeto na imagem de Obama o colocam como um quase super-herói capaz de solucionar todos os problemas da nação. A experiência e a força de MacCain o ligam ao herói de guerra do Vietnã preparado para liderar o país nas duras batalhas do momento histórico atual. Logo, a invenção de simbologias identitárias torna-se necessária em um país homogeneizado pela ideologia liberal e pelo modo de produção capitalista.

Em segundo lugar, a falência do liberalismo colocou o país em um estado sistemático de crises. Os colapsos financeiro e imobiliário de 2007-2008 foram um duro golpe que acabou por favorecer Obama na reta final das eleições. Por um lado, o prêmio Nobel em economia Paul Krugman atribui à eleição de Obama a representação de um referendo contra as políticas econômicas desastrosas da gestão anterior e a esperança que um novo New Deal possa resgatar o crescimento econômico do país como nos anos 1930. Por outro lado, desconsiderar a política unilateralista imperial de superextensão e controle de regiões estratégicas do ponto de vista energético é sobrevalorizar o elemento econômico.

De qualquer forma, os dramas econômicos e políticos convergiram no momento da eleição de 2008 e auxiliaram no processo de mudança política, mas não cessarão até que novos modelos sejam pensados e implementados. O desespero daqueles afetados com a quebra dos mercados financeiro e imobiliário e o sofrimento da porção média da população com as falhas do sistema de educação, saúde e habitação permanecerão assombrando o cenário sócio-econômico dos EUA uma vez que as mudanças no plano cultural e das idéias, propostas por Obama, se arrastarão por um longo período.

Em terceiro, o dilema étnico-racial é uma constante de desequilíbrio de impérios transnacionais. A imagem internacional dos EUA permanece manchada pela intolerância ao imigrante de diferentes origens e pelo racismo contra o elemento não caucasiano. A imigração continua sendo um albatroz em franco avanço para a nova administração democrata que não deixará de ter o México como vizinho ou a globalização como força impulsionadora do fluxo de pessoas. Ademais, a pós-racialidade de Obama não o isenta de ter de enfrentar a possível fragmentação étnica já em curso no país com a conformação de guetos e a crescente importância de comunidades latinas e asiáticas.

Em quarto, os limites da democracia imperial exacerbam as forças da desigualdade e da injustiça social. A historicidade do pleito de 4 de novembro de 2008 marca a eleição de um candidato negro em um país de elite branca, que foi escolhido para governar em favor desta elite e blindado para suportar as pressões de práticas identitárias dos republicanos que exploraram sistematicamente a indecisão do eleitor e o ressentimento racial branco. Com isso, as preocupações com o funcionamento do modelo democrático tornaram-se irrelevantes e ficaram evidentes: a) a correlação entre capitalismo e democracia fez com que o poder financeiro fosse um fator decisivo neste processo eleitoral, como tem sido tradicional da história política norte-americana; b) o descaso com que o eleitor foi tratado ao longo da votação evidenciou o maniqueísmo e a manipulação por trás do processo eleitoral. c) as crescentes insatisfações com o modelo de eleição indireta, que confia a um colégio eleitoral formado por delegados a escolha do presidente, vêm despertando a consciência que o poder não está nas mãos nem de indivíduos nem do povo; d) muitas das expectativas geradas pelos norte-americanos com relação ao governo de Obama também são compartilhadas por pessoas em diferentes partes do mundo. Obviamente ao estrangeiro não cabe direito a voto, apesar de grande parte das decisões democráticas e soberanas do império afetarem os destinos de outros povos e nações.

Em quinto, alguns problemas estratégicos constituem uma teia de fatos responsáveis por subsidiar a manufatura da política externa norte-americana para o que se acredita ser um novo ciclo democrata no país. Dentre eles podemos citar as restrições ao comercio e às finanças mundiais, a penetração cultural de valores não-ocidentais ou antiamericanos, o sucesso de modelos sociais exportáveis, o terrorismo internacional, o controle da informação e ataques cibernéticos, a produção de alimentos e os recursos naturais e energéticos. Todos eles moldarão de alguma forma as relações internacionais dos EUA e afetarão suas decisões no que toca a continuação no Oriente Médio, o controle sobre a Ásia Central, a corrida espacial e energética com os chineses, a tentativa de domínio informal sobre a Amazônia e a militarização da América do Sul.

Como conclusão é importante ressaltar que os impactos da vitória democrata serão sentidos mas não significarão rupturas na história das relações internacionais do país. Obama se comportou ao longo da campanha como um candidato pós-partidário que estaria acima dos imbróglios tradicionais entre republicanos e democratas e exaltou um discurso pós-racial, que evitava a associação com as minorias negras. Assim, enquanto internamente poderá romper barreiras no sentido de construir uma nova sociedade americana, externamente as semelhanças com o governo de Bill Clinton e as dificuldades de lidar com os problemas estratégicos podem ofuscar o brilho acoplado à sua imagem. Além disso, a incapacidade de exercer a hegemonia liberal em um mundo de protecionismos e nacionalismos crescentes e as indefinições da questão racial dentro e fora das fronteiras é um sintoma de debilidade de poder e um “calcanhar de Aquiles” do império.

O novo ciclo político democrata confia nos desígnios de um líder jovem, intelectualizado, protestante, negro, havaiano e descendente de muçulmanos: este perfil de Barack Obama o credencia a conduzir de forma mais ecumênica a política exterior de seu país, mas não garante que o fará desta maneira. A confiança excessiva na versatilidade e multiculturalidade e a negligência de aspectos estruturantes da política internacional podem ser fatais para o futuro das pretensões norte-americanas. No horizonte da sociedade internacional, a nova política externa imperial que Obama deverá orquestrar contempla o nascer de um mundo pós-americano: da emergência de titãs como Índia e China, da solidez de potências regionais como Brasil e África do Sul, do soerguimento de potências tradicionais como Rússia, até a complexidade da agenda internacional em torno de temas como segurança climática e energética, ações preventivas e pré-emptivas na esfera humanitária e o desenvolvimento e prosperidade civilizacionais.


Obamania para o Brasil

Julia Camargo
Professora do Curso de Relações Internacionais da UFRR. julia_fcamargo@hotmail.com


A mudança chegou. Pelo menos essa é a esperança dos norte-americanos que elegeram Barack Hussein Obama Junior, de 47 anos, como o primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. O quadragésimo quarto presidente norte-americano promete restaurar a imagem dos Estados Unidos no mundo, danificada nos últimos oito anos de Governo Bush. A vitória acontece em um momento em que os Estados Unidos atravessam sua pior crise financeira em décadas e enfrentam duas guerras, do Iraque e Afeganistão que parecem não ter um fim próximo. A eleição que mais contou com a participação popular nos últimos cem anos da história eleitoral norte-americana marca a mudança de partido, geração e orientação política do país mais poderoso do mundo. Mas quais seriam as conseqüências dessas mudanças para o Brasil?

Pode-se dizer que o Brasil, ao contrário de muitos países do mundo, não teriam o que reclamar do que pode ser chamado de “Era Bush”. A investida contra o terror (2001), a Guerra do Iraque (2003) e a recente crise econômica que assolou as finanças internacionais fizeram com que os falcões da Casa Branca não disponibilizassem à América do Sul parte de suas atenções.
Analistas norte-americanos afirmam que os Estados Unidos não utilizaram sequer na América do Sul, durante todo o Governo Bush, a sua capacidade de obter resultados desejados por meio da atração ao invés da coerção – essa dinâmica é conhecida nas Relações Internacionais como soft power. Análises alarmantes e polêmicas argumentam que foi justamente essa negligência que permitiu a ascensão de governos sul-americanos considerados de esquerda e não tão favoráveis à administração Bush, na região que durante algum tempo foi considerada pelos governos norte-americanos como o quintal dos Estados Unidos.

O fato é que o Brasil durante a administração Bush pode exercer o que os formadores de política externa do Governo Lula chamam de “vocação natural” para ser um líder na América do Sul. Tornar-se líder na região Sul-Americana e chamar a atenção do mundo para o Brasil são os dois principais interesses da atual gestão de política externa . É interessante notar que na imprensa internacional, jornais de extensa influência política em questões internacionais como o espanhol El País, os norte-americanos Washington Post e New York Times e a agência internacional de notícias britânica BBC, recentemente, publicaram matérias sublinhando o papel de líder da diplomacia brasileira nas principais questões que afetam a América do Sul.
É possível argumentar que o Brasil almeja uma posição de potência emergente no cenário internacional e a viabilidade para alcançar esse interesse nacional perpassa pelo domínio Sul- Americano. Durante os oito anos de Bush foi possível à política externa brasileira atuar como mediadora em conflitos Sul-Americanos e garantir o equilíbrio e a moderação com governos esquerdistas tidos como “radicais” como Bolívia, Equador e Venezuela sem a interferência da Casa Branca.

De tal forma, seria razoável argumentar que, nesse contexto sul-americano, tanto faria quais dos dois, Obama ou McCain, fossem eleitos como presidente. Washington não teria condições de se preocupar com a transformação desse cenário de uma maneira efetiva. Afinal, muda-se o presidente mas os problemas em que os Estados Unidos estão atolados continuam. E as previsões indicam que esses problemas não serão resolvidos tão prontamente.

Entretanto, para os interesses nacionais brasileiros na área das relações internacionais é possível afirmar que Obama apresenta-se como a melhor opção para a política externa formulada pelo Governo Lula. Três exemplos de temas que envolvem os interesses nacionais no âmbito da política externa brasileira podem ser citados levando em consideração a vitória de Obama: 1) A possibilidade brasileira de garantir um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU; 2) Apoio à ações multilateriais no cenário internacional; 3) Estabilidade na região por meio do diálogo com Cuba e Venezuela.

A tentativa de pleitear um assento no Conselho de Segurança da ONU ganhou fôlego no Governo Lula. A partir de então a política externa brasileira utiliza as relações internacionais com o intuito de fortalecer essa expectativa. Sobre esse assunto, o candidato republicano à Casa Branca, parece não considerar a ONU como uma instituição efetiva para a solução das questões internacionais. McCain deixou clara sua proposta a respeito da criação de uma “Liga das Democracias” que funcionaria como um fórum mundial que consideraria as vozes que não são ouvidas pela ONU. Desta “Liga” fariam parte mais de cem países democráticos e excluiria-se a China e a Rússia dessa instituição. Por outro lado, Obama é sim favorável à uma possível reforma do Conselho de Segurança da ONU. Porém, em suas últimas entrevistas a respeito do tema considerou a possibilidade de se fazer essa reforma com uma cláusula bastante específica: a inclusão de novos membros na Organização não seria acompanhada pelo poder de veto. Com relação à ONU, entre Obama e McCain, a melhor opção para o Brasil seria o primeiro nome, mesmo que sua proposta de reforma seja um tanto quanto mitigada.

O multilateralismo, que implica a atuação de diversos atores no processo de tomada de decisão nas questões internacionais, é um outro tema endossado pela atual política externa brasileira. Na gestão Bush a idéia do multilateralismo foi descartada e a opinião pública da sociedade internacional assistiu os Estados Unidos se posicionarem de maneira unilateral nas relações internacionais, como ficou demonstrado com o ataque ao Iraque sem a autorização da ONU e a não assinatura do Tratado de Kioto.

Mas com Obama presidente, analistas internacionais sugerem que haveria uma maior conscientização a respeito da idéia de que no mundo contemporâneo, por mais poderoso que um país seja, não seria mais possível se movimentar sem o apoio dos demais. Essa interdependência entre os países foi uma das propostas de campanha dos Estados Unidos idealizado por Obama. Um país que dividiria o poder nos foros internacionais de uma maneira ponderada e acrescentaria novas alianças com nações emergentes. Assim, uma das consequências para o Brasil é que essa postura do candidato democrata poderia facilitar as negociações internacionais em que o país se envolve, como por exemplo as disputas comerciais na OMC e, igualmente, poderia incrementar o poder de barganha da política externa brasileira em temas relevantes como o desejado assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Decerto, o Brasil teria uma vantagem com esse cenário, mas a aposta em Obama como o promotor do multilateralismo em temas da agenda global é uma hipótese que somente o tempo histórico e as forças políticas que moldam o cenário internacional poderão provar.

O último ponto que abordaria o “fenômeno Obama” como algo positivo para o Brasil diz respeito à postura de diálogo que o mais novo presidente dos Estados Unidos assume com relação a dois países da América do Sul: Venezuela e Cuba. Enquanto McCain defendeu na corrida eleitoral a intensificação das pressões contra o regime cubano e o isolamento do presidente venezuelano Hugo Chavez, Barack Obama propõe o fim das restrições ao envio de dinheiro de cubano-americano a Cuba e o diálogo com o regime de Raúl Castro. Com relação a Chavez, o democrata afirma que o fortalecimento da liderança americana é a melhor forma de conter a retórica de Chavez.
Para a política externa brasileira a possibilidade de uma aproximação norte-americana com esses dois países representa algo no mínimo proveitoso. Um maior diálogo com Venezuela e Cuba poderia aliviar a necessidade brasileira de agir como mediadora toda vez que esses países entram em conflito, muitos deles, vale ressaltar, apenas no plano discursivo. Nesse contexto, o Brasil teria um maior espaço de manobra no continente Sul-Americano e seu laço histórico de cooperação pragmática com os Estados Unidos poderia ser fortalecido sem causar maiores desconfianças entre os países da América do Sul.

Ao vencer as eleições Barack Obama mostrou, conforme em seu discurso de vitória, que os Estados Unidos são um lugar onde tudo é possível, um lugar que ainda mantém o sonho de seus idealizadores vivos e caso ainda restassem dúvidas da democracia norte-americana a resposta seria a sua própria eleição pelo povo norte-americano. Basta saber se essa realização do sonho americano conseguirá convergir a necessidade de ordenar um mundo caótico, legado da administração Bush e conseguirá converter a deterioração da imagem dos Estados Unidos entre os países do mundo, principalmente no mundo árabe. A mudança chegou, porém o desafio veio junto. Para a América do Sul as propostas políticas de Obama se assemelham mais a uma mudança de tom, sem grandes iniciativas ou modificações. Para o Brasil, entre Obama e McCain o primeiro não parece ser uma má opção para a efetivação dos interesses nacionais da política externa arquitetada pelo Governo Lula.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia

Paul Krugman, Prêmio Nobel de Economia

Autor: Prof. Elói Martins Senhoras.

Embora seja controvertida a representatividade do Prêmio Nobel de Economia devido ao exclusivismo concentrado de laureados advindos de universidades estadunidenses, o ano de 2008 extroverte a politização do saber econômico.
Paul Krugman, o destaque do prêmio de economia de 2008 não restringe a sua importância teórica às ciências econômicas, mas antes abre passagem para as discussões políticas contrárias ao movimento neoconservador dos Estados Unidos como colaborador freqüente do jornal New York Times e da revista Fortune.
A despeito do professor universitário da Universidade de Princeton chamar a atenção acadêmica no campo epistemológico da economia em função de suas contribuições teóricas sobre comércio internacional estratégico, nova geografia econômica e crises internacionais, a polêmica de sua laureação acontece em função dele ser o principal economista crítico à administração Bush.
Do econômico ao político, Krugman percorre as assimetrias e relações de poder em que incorre o mundo e por isso resgata importantes subsídios ao entendimento das relações econômico-internacionais por meio de suas teorias e críticas.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

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