quinta-feira, 26 de março de 2009

O Mundo Pós-Americano

Uma intrigante narrativa acerca dos prognósticos da política internacional no século 21 se mescla a uma abordagem de futurologia no mais recente livro de Fareed Zakaria The post-American World.[1] Notório pelo teor crítico de suas análises na revista norte-americana NewsWeek, contra a política externa do governo Bush, Zakaria pendula entre o fascínio pelos novos poderes emergentes e o otimismo acerca do futuro da democracia liberal no mundo. O argumento central de Zakaria é que estamos entrando em um mundo pós-americano, no qual China e Índia representam uma nova perspectiva na configuração global de poder, muito mais disseminado, diluído e até certo ponto democratizado. Não se trata de uma obra sobre o declínio dos Estados Unidos, mas sobre “the rise of the rest”.
O objetivo da obra é instigar estudiosos e leitores interessados nas relações internacionais, e nas ciências humanas em geral, a vislumbrar os delineamentos e formas de um mundo novo: inventado não na ruína imaginada de um império colossal, mas na ascensão de uma ordem de grandes possibilidades. A narrativa inclui experiências pessoais de vida, desde sua saída da Índia em 1982 até suas recentes viagens de trabalho pelos países asiáticos, onde pôde constatar as transformações operadas naquelas sociedades. Apresenta ao longo do livro um enfoque globalista muito pertinente às explicações atuais das Ciências Humanas, mas que carece de uma visão acurada da realidade brasileira e sul-americana.
Conceitualmente, o livro avança ao apontar uma nova forma de conceber a ordem internacional no século 21. Fareed Zakaria contribui ao agregar uma nova perspectiva às discussões já em voga e, assim, a idéia de um mundo pós-americano é adequada do ponto de vista teórico, pois se articula com o discurso pós-moderno, e é operacional do ponto de vista conceitual, pois preenche uma lacuna de definição acerca da nova era em que vivemos. Entretanto, um ensaio que pretende vislumbrar o desenrolar do tempo presente em cenários futuros depara-se com óbices inelutáveis: não conseguir enxergar a eclosão de contingências históricas, nem respaldar e embasar sentenças e afirmativas pelo acesso criterioso às fontes primárias. Por fim, a obra de Zakaria exagera na mensagem triunfalista, de recuperação da hegemonia benevolente, como tentativa de reconstruir a imagem dos EUA após os oito anos de fracasso da gestão neoconservadora do governo Bush.
De qualquer forma, Zakaria dá continuidade a uma tradição de pensadores de grande impacto midiático como Francis Fukuyama, Samuel Huntington e Thomas Friedman. Ademais, o novo governo democrata de Barack Obama torna o livro sobre as idéias e ações dos EUA no mundo de hoje indispensável. Entretanto, não fica incólume à reflexão científica. Caso encontrasse o Sr. Fareed Zakaria, perguntaria: “Dear Mr. Zak, wouldn’t be the post-American world a brand new world with the United States above the rest? "


Escrito por: Thiago Gehre, Historiador de Relações Internacionais, Chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima.

2 comentários:

Alexandre Felipe disse...

viva o reitor, viva Uribe, viva Israel, viva o protestantismo, viva o SPFC 6-3-3, viva o Paulo Cesar Quartiero, viva Adam Smith, abaixo Marx, abaixo reserva indígena, abaixo discurso vazio sem produçao acadêmica, abaixo greve

Pilar disse...

o nome do livro é bastante apelativo, mas pelo que entendi a hipótese lançada pelo autor parece interessante, porque é o que se observa no cenário internacional: o surgimento de outros pólos de poder e o deslocamento da atenção para eles. acho que leitura do livro deve ser interessante!