sexta-feira, 5 de junho de 2009

A Relação entre Mídia e Direitos Humanos em Situações de Conflitos Armados


É fato que em situações de conflitos armados, violações aos Direitos Humanos ocorrem e com freqüência. Na sociedade da informação, “o direito a ter direitos” – utilizando frase de Hannah Arendt – está em grande parte associado à atuação da mídia, responsável por denunciar seus desrespeitos e promover o debate público. Entretanto, é preciso haver cautela ao delegar aos meios de comunicação a promoção da sensibilização social em situações de conflito.
No século XX, os mass media conquistaram espaço relevante nas interações sociais. A História da cobertura das guerras mostra que exercer o controle sobre os meios de comunicação é uma estratégia crucial para os governos beligerantes.
Em 2003, o Tribunal Penal Internacional para Ruanda, condenou três jornalistas por utilizarem a mídia para incitar o genocídio que matou entre 500 e 800 mil pessoas, em 1994. O caso ficou conhecido como ‘Mídia do Ódio’ e entre os condenados estavam o ex-diretor da Radio Television Libre des Miles Colines, que apoiava o assassinato da minoria Tutsi, transmitindo frases como “matem as baratas”. E o editor do jornal extremista Hutu, Kangura, que divulgava listas de extermínio.
Na invasão ao Iraque, a mídia norte-americana também apoiou por um período a administração Bush, em 2003. Raramente ela questionou a argumentação – depois, comprovadamente falsa - de que Saddam Hussein comprara urânio enriquecido do Níger, com o propósito de fabricar armas de destruição em massa. No campo de batalha, a estratégia da informação limitou a atuação dos jornalistas com a implementação dos embeddings. A insatisfação com a imprensa se mostrou notória, principalmente, nos discursos do ex-Secretário da Defesa, Donald Rumsfield. O fim desse posicionamento complacente ocorreu em 2004, com o “escândalo” de Abu Ghraib e as graves denúncias acerca da prisão de Guantánamo. Somente após a divulgação, na imprensa mundial, de fotos chocantes que retratavam os soldados da coalizão torturando prisioneiros de guerra é que foi questionada a negligência dos valores éticos no conflito, e colocou-se em pauta o desrespeito dos Estados Unidos aos Direitos Humanos e às Convenções de Genebra.
Outro desafio acerca da promoção dos Direitos Humanos na experiência cotidiana encontra-se na atuação das grandes corporações da mídia. A concentração dos setores da comunicação traz como conseqüência a difusão de discursos limitados geograficamente e monofônicos culturalmente. De acordo com a UNESCO, as maiores agências internacionais de notícias - Reuters, Associated Press, Agence France Press - representam 80% da fonte de informações que abastece a opinião pública mundial. Devido ao seu poder no mercado global da informação, cria-se uma dinâmica na qual somente aquilo que é noticiado por essas mídias recebe atenção internacional. Assim, a opinião pública global se torna inefável perante inúmeras violações aos Direitos Humanos as quais não são assimiladas à memória coletiva. Uma vez que não é possível zerar o cronômetro da História, o cultivo à memória e o incentivo ao perdão são condições essenciais para se evitar as atrocidades cometidas pelo homem ao longo do tempo. Como diz Morin: “perdoar é resistir à crueldade do mundo”.
O atual conflito em Darfur, ficou por muito tempo fora da agenda de notícias porque jornalistas acreditavam que o público simplesmente não se interessava. O fato de ter sido necessária cobertura intensa da mídia internacional para haver mobilização, levou o ex-secretário-geral da ONU, Kofi Annan, a afirmar que essa situação “é uma vergonha, não só para o Sudão, mas para o mundo inteiro”.
No cenário internacional contemporâneo, é indiscutível que as imagens e discursos transmitidos pela mídia são capazes de mobilizar a sociedade internacional. O problema é que esses discursos apresentam-se desprovidos de motivação em construir uma cultura que valorize o respeito à dignidade humana e o exercício da cidadania. Em 2006, uma pesquisa realizada pela Agência de Notícias dos Direitos da Infância e pela Secretária Especial de Direitos Humanos, concluiu que na imprensa brasileira, o tema “Direitos Humanos” é tratado de forma genérica, desbalanceada e sem perspectiva histórica.
É fundamental a criação de espaços discursivos livres que promovam o respeito aos Direitos Humanos de uma forma universalizável. É mister uma estratégia da informação capaz de auxiliar as forças de paz no âmbito das instituições internacionais e da sociedade civil. Ressalta-se nessa tarefa o papel das mídias alternativas como opção aos discursos das grandes agências de notícia internacionais. A necessidade de uma mídia pluralista, democrática e independente não é responsabilidade só de jornalistas, mas de toda sociedade mundial que, diariamente, observa sua História sendo registrada de maneira omissa e insensível.

Autora: Júlia Faria Camargo - Professora do Curso de Relações Internacionais
Postado por: Equipe de Edição.

sábado, 9 de maio de 2009

Chávez, um tirano segundo Platão?

O atual presidente venezuelano Hugo Chaves Frías é recorrentemente apontado como perigoso para a democracia no cone sul e um potencial inimigo para a paz no continente. Tais críticas, no entanto, são em sua maioria material jornalístico. Por isso carece o tema de método e uso de referências científicas. Neste texto tentarei ponderar o regime chavista tendo como ferramenta analítica a definição de tirano de Platão. Antes de suscitar qualquer sentimento apaixonado, assumo a minha posição de estudante investigando um regime com o uso de preceitos de filosofia política. E tendo o objetivo de compreender uma administração sul-americana. Para realizar minha análise explanarei a contribuição de Platão para a compreensão do tema e como Platão entende tirania e quais conceitos da tirania por Platão, podem ser utilizados no caso venezuelano.

Platão foi um filósofo grego da antiguidade clássica. Em sua obra “A República”, ele decompõe os tipos de governo possíveis em sua época. Essas definições, contudo, não são aplicáveis cruamente na sociedade atual. Na construção desse texto, faço uma releitura da definição de tirania para o filósofo. Platão, por exemplo, observa classes com menos acesso a educação formal ou pessoas não gregas de forma preconceituosa para leitores atuais. Entretanto emprego as categorias de Platão, na medida do possível, como entendidas pelas pessoas comuns de hoje.
Platão interpreta que a tirania é causada pela democracia, pois, segundo ele, uma situação é respondida por outra oposta, e, para o autor, a tirania é necessariamente antecedida pela democracia, pois a tirania é o antônimo da democracia. Platão continua afirmando que o tirano começa seu governo como protetor da comunidade e inimigo das injustiças cometidas nos governos anteriores. Essa primeira fase também é marcada pelo populismo, quando o tirano reparte as terras e perdoa dívidas. Porém, no segundo momento após a implantação do regime, o tirano tem a necessidade de suscitar inimigos para comprovar aos governados a necessidade da existência de um líder. Ocorre um fortalecimento militar, perseguição aos críticos do seu mando, sejam eles inimigos ou amigos, ao mesmo tempo em que fomenta a ascensão das classes menos privilegiadas anteriormente. E estas classes tornam-se defensoras da administração do tirano e durante todo esse período, e enquanto houver dinheiro em caixa, o tirano tentará operar com um populismo fiscal.
Dessas características utilizarei três aspectos, para a compreensão da administração venezuelana, a democracia como causa do aparecimento do tirano, o populismo ocasionado pelo petróleo, e a necessidade que o tirano tem de suscitar inimigos.
O primeiro aspecto é Chávez como resposta às deficiências da democracia venezuelana. A história política da Venezuela tem o impacto da figura de Hugo Chávez em quatro de fevereiro de 1992 quando ele e um grupo de oficiais tentaram praticar um golpe de Estado. Chávez foi preso e o golpe fracassou. Todavia sua imagem havia captado todo o descontentamento da democracia. Seis anos mais tarde, Chávez ganha à eleição presidencial e cedo começa uma serie de mudanças institucionais no país. A segunda característica, a perseguição aos críticos do governo observa-se principalmente com o discurso chavista de aniquilação dos partidos tradicionais. O terceiro aspecto é o populismo, um conceito controverso na América latina, poderia ser bastante explorado em uma análise do regime chavista. Contudo, como o referencial aqui é utilizado é Platão, iremos apenas até onde alcança a teorização do autor. O período em que Chávez se mantém no poder coincide com o aumento retumbante nos preços do petróleo enchendo os cofres venezuelanos possibilitando ao governo promover programas assistencialistas, o tabelamento dos preços de alimentos e o baixo preço da gasolina que são apenas alguns dos muitos exemplos do populismo chavista. O ultimo ponto, a criação de inimigos, tornou-se recentemente um recurso menos utilizado pelo mandatário venezuelano. Entretanto freqüentemente percebeu-se essa tentativa em Chávez com as criticas duras que ele fazia contra aquilo que chamava de imperialismo americano, ou quando titulou o ex-presidente Bush dos Estados Unidos de Satanás, e a sua intromissão tendenciosa na controvérsia entre Colômbia e Equador, quando ele tomou as dores do governo do governo equatoriano e mandou tropas para a fronteira de seu país com a Colômbia.
O regime chavista, talvez o mais intrigante da região suscite, bastantes opiniões e explicações diferentes. O texto apesar de não possuir tantas pretensões empíricas, tentou analisar de forma breve e sistemática o regime chavista, espero ter ajudado de forma criteriosa a compreensão do atual governo venezuelano suas causas, seu modo de operação e suas aspirações.

Autor: Alexandre Felipe Pinho dos Santos, aluno do 5° semestre de Relações Internacionais da UFRR.
Postado por: Hélio Araújo.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Climbing the Ladder along the brain drain.

I don’t know who or where the term brain drain was coined but it is in all senses a reality in third world countries – the mass exodus of young qualified and in many cases not so qualified people to other countries in search of opportunity. But I ask the question what is opportunity?
When I was at university, one of my lecturers suddenly disappeared without a trace. About a year later one of my peers started an interesting conversation after a recent visit to Canada. There he was for the first time seeing, and feeling, the very cold snow. Just walking along a main street in Toronto looking at the stores exploding with Christmas goodies for the families and especially the tourists. Then he stops to more closely examine some toys which he thought his little brother back home might enjoy. And to his surprise, standing there in the bitter cold is no other than our lost professor. Yes OUR professor. Our professor was now working at a toy store in down town Toronto. A qualified electrical engineer, a university professor, now working at a toy store. And here is the shock of it all – as a guard. That my friend is opportunity. Our professor was making ten times more money as guard at a toy store in Toronto than as a full time university lecturer at a university in Guyana. As it is, he might not have had any luck trying to work in his elite field in Canada as standards vary from country to country and recognition of qualification is very precarious too. So it was just “easier” to get a job that would pay a salary many times more than the one at home and make the sacrifices of dealing with the cold and whatever other problems there might be.
Opportunity meant earning enough money to send to family at home, enough to save for a house – in Toronto, and just enough to live in the cold. Opportunity meant changing a comfortable lifestyle with little money to a hard nonstop one with a lot more money.
My name is Jerry and I came to live in boa vista almost seven years ago. I left Guyana in search of opportunity and I found it as an English teacher in the northern most state capital of Brazil- Boa Vista. Fortunately Boa Vista is far from cold but unfortunately too far. Anyway, I started out as a timid 24 year old teacher in the biggest English language school in the city. It was at this point that I started to see, hear and feel the price of opportunity. As time goes by, I sincerely hope that the prejudice of what was so strong six and a half years ago continues to fade as it has since then. As a Guyanese I was branded as someone who does not speak English or at least not correctly. I was regularly the point of jokes that alluded to the possibility of me being a regular user of cannabis and even a source. In retrospect I find it hilarious but at the time it was a heavy price for me to pay.
My most shocking story was yet to come. The mother of one of my students eventually found out that I was Guyanese and she too came to the conclusion that I was definitely not suitable to influence the young malleable mind of her child. Result- a request was put in to have her child transferred to another class where someone more suitable would teach her beloved. Wow!
I was born in Brazil to a Brazilian mother and a Guyanese father on the border between the two countries. All my education was in Guyana and I had lived there all my life until my epic move in 2002. I did primary school in the interior of the country some four hours from the border. I then moved on to the capital, Georgetown, where I did secondary school and continued on to university. I have never worked in my field of studies - Electrical Engineering. Since my move to Brazil I have invested in language teaching, a wonderful journey which started out as a one year experiment. My plans were to teach in Brazil for one year then go back to Guyana. Since 2002 I have been back only for holidays and occasionally as an interpreter.
After three years working at my first employers I left to try my hand at another opportunity, this time as a businessman. The business? Nothing else but a language school. In February of 2005 another teacher and I started a small language school, teaching English as a foreign or second language. We quickly realized that there was also opportunity in teaching other languages and so we hired teachers for Spanish, French, German and Italian. Today we are the only private institution offering that many languages.
So getting back to the quality of my spoken English… today I have managed to gain some respect with regards to my abilities as a linguist and above all as a capable English teacher. Today I have no worries about prejudice. These days I get special requests, students wanting to be in my class. But I admit it was a hard journey.
I have cited here two examples of the Brain Drain. Qualified people in search of better salaries, better living conditions, better opportunities. But at what price? What price do these people pay to live these opportunities? And even more important, what price does the country of origin pay?
The Brain Drain then means that there are fewer and fewer qualified and experienced professionals left in the country, in the cases above, Guyana. A tiny South American country with a population of scarcely three quarters of a million people and a population density ratio of four people per square kilometer, according to The World Bank, can hardly afford a migration rate of hundreds to thousands per year and even worse the migration of qualified people.
The reality of it all however is that we all want better for ourselves and this comes in different interpretations and the roads to better pastures is as varied as the people who seek them. Brazil is not yet a popular destination for Guyanese mainly because of the language barrier but it is gradually becoming a tourist destination for Guyanese which will ultimately increase the flow of opportunity seekers like me. Brazil being much nearer than North America and much easier to enter will in time prove to be very alluring, especially with the new border parameters being defined, the long awaited bridge across the Takutu River and the creation of industrial parks on both sides of the border.
So now I am just another number in the statistics of immigrants from Guyana who is in search of better opportunities in another country, making a name for myself and trying to get enough to one day return to my homeland. Many people never make it back but live an incessant struggle trying to get there. Time is yet to tell what will become of me and whether I`ll continue living here or one day return to the familiar hills of home.


Jeremy Faria
EFL/ESL Tutor
Academic coordinator
Feedback Idiomas.

Postado por: Equipe de editores.

sábado, 18 de abril de 2009

Será o fim do embargo americano a Cuba? E porque houve o embargo?


O anúncio da Casa Branca nesta segunda feira dia 14/04/2009 marcam o fim de certas restrições dos EUA em relação a Cuba. Limites impostos a cubanos que vivem nos EUA como a impossibilidade de irem a ilha ou o envio de dinheiro para parentes que residem na Cuba, tem um ponto final. Foi anunciado também o fim de restrições que impediam que empresas norte-americanas operassem em Cuba, as empresas estão agora autorizadas a firmarem acordos com o governo cubano pra que se estabeleça comunicações por fibra ótica ou via satélite entre os dois países, além disso as empresas poderão também transmitir programas de televisão e rádio americanos aos cubanos.
EUA e cuba reduzem as distancias e as duas bandeiras se encontram cada vez mais próximas. Tudo indica que em um futuro próximo podemos ter a formação de laços comerciais entre os dois países.
Aproveitando este momento, iremos relembrar como se deu a ascensão da Revolução Cubana, fato muito importante para a America Latina e que levou os irmãos Castro ao poder.


A revolução cubana



Em 1953 os estudantes começam protestos contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Em 26 de julho do mesmo ano, os irmãos Fidel e Raul Castro junto ao médico argentino Ernesto “Che” Guevara organizam o ataque ao quartel da Moncada. Iniciativa não foi bem sucedida, causando a morte de quase metade dos guerrilheiros. Após ter amargado a prisão até 1955 os três foram libertados e se exilaram no México. Pouco tempo depois os revolucionários voltaram a Cuba no Granma, um pequeno iate. Novamente as tropas de Batista provocaram pesadas baixas entre os guerrilheiros. Fidel, Raul, “Che” e poucos outros conseguiram alcançar as montanhas a famosa Sierra Maestra. Os líderes começaram a organizar os camponeses e a procurar o apoio de uma parte da burguesia. Fidel pregava, também, o fim da exploração dos camponeses que não tinham propriedade de terra, pois quando conseguiam o empréstimo para o cultivo deviam pagar juros altíssimos, além disso, os guardas florestais cobravam impostos indevidos. Isso fomentou o movimento guerrilheiro que recebia treinamento militar e educação política. Foi-se concretizando então a idéia de derrubar militarmente Batista. Unificaram-se vários movimentos nacionalistas formando a Frente Democrática Nacional, cujo objetivo era formar um governo democrático pondo fim à ditadura de Batista. A Frente se tornou então um partido político que recolheu mais de 8.000 assinaturas de eleitores pedindo um novo pleito. Este pedido foi, porém, negado pelo governo de Batista. Esta recusa evidenciou o caráter autoritário do ditador, motivando ainda mais o movimento nacionalista à luta. O lema dos revolucionários era “eleições livres e derrota do governo anti-cubano”. As principais reivindicações do Partido eram:
a) Anistia para os presos políticos e sociais;
b) Total revogação dos decretos-leis de ordem pública e anticomunista;
c) Final do fechamento de Hoy, La Calle, e outros jornais e restabelecimento efetivo da liberdade de imprensa;
d) Restabelecimento dos direitos democráticos inclusive dos direitos de reunião de trabalhadores e funcionários, do direito de se organizarem e de fazer manifestações de protesto contra reduções de salário;
e) Extinção do imposto sindical fascista;
f) Facilidade para a participação de todos os partidos e núcleos democráticos, operários, antiimperialistas, socialistas e progressistas, nas eleições, restabelecendo os princípios da constituição de 1940;
g) Voto livre e direto.
Não tendo êxito por meios legais, negados pelo ditador Batista, acirra-se a luta armada. Em outubro de 1958 inicia a “Marcha sobre Havana”. Os revolucionários tomam a capital de Cuba em janeiro de 1959. Após a fuga para os EUA de Fulgêncio Batista, constituiu-se um governo moderado com Manoel Urritia como presidente e Miró Cardona como primeiro-ministro. As primeiras medidas são, porém, bastante radicais, como: nacionalização de empresas americanas de petróleo e transporte; reformulação da educação e saúde; é eliminado o latifúndio e se inicia a reforma agrária. Estas mudanças eram excessivas para a burguesia, mas tímidas demais para população mais carente. Fidel Castro assume então o poder para agilizar e aprofundar tais reformas.
Obviamente estas medidas desagradam profundamente a Casa Branca que, antes, promove o boicote ao açúcar cubano e, em seguida, financia grupos anti-castristas que acabam por tentar a invasão da ilha. Os anti-revolucionários são, porém, rapidamente derrotados na famosa batalha da Baía dos Porcos. As pressões americanas continuam e culminam com a expulsão de Cuba da Organização dos Estados Americanos, em 1962. Estas medidas isolacionistas obrigam o governo revolucionário que, mesmo tendo referências marxistas-leninistas, era acima de tudo nacionalista, a se aproximar da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Proporcionando ao mundo o mais grave episódio da Guerra Fria: a grave crise dos mísseis instalados na ilha pela URSS que ameaçavam os EUA, considerando que o estado americano da Florida dista, apenas, 100 milhas de Cuba. A solução pacífica da crise não amenizou o embargo americano que dura até hoje tal como o governo de Castro e o regime comunista.
postado por: Rafael Vicente da Rocha Chirone e Sheldon Thiago Pontes Gomes


sábado, 11 de abril de 2009

A história do homem que sonhou com a indústria automobilistica brasileira.



"Automóvel não se fabrica, compra-se. É coisa para multinacionais."
O desafio de Gurgel com os automóveis começou em 1949, quando apresentou, em um exame da Escola Politécnica da USP, um projeto de carro. A frase acima foi proferida por um professor que quase o reprovou. Começava a história do engenheiro que foi aos Estados Unidos buscar know-how na indústria automobilística americana, trabalhou nas maiores fábricas do planeta e publicou artigos em revistas especializadas americanas aos singelos 27 anos.
Foi na América que obteve o diploma de Engenheiro Automobilístico pelo General Motors Institute. Depois, trabalhou na GM do Brasil e, mais tarde, na Ford. Em seguida participou do Geia (Grupo Executivo da Indústria Automobilística), programa instituído pelo então presidente Juscelino Kubitscheck.
Em 1958, quando o filho estava nascendo, João Augusto Conrado do Amaral Gurgel pediu demissão da Ford, onde trabalhava, depois de uma discussão com o vice-presidente da companhia sobre a insistência do executivo em não trazer carros para o Brasil.
A Ford queria permanecer só no mercado de caminhões. A alegação era de que um país com renda per capita de US$ 129 por ano, em média, não podia consumir carros. Por mais que Gurgel argumentasse, essa posição era irredutível. A resposta do jovem engenheiro foi definitiva, iniciou a produção de automóveis com apenas US$ 50 mil.
Na verdade, o início da saga desse brasileiro empreendedor se deu com a Moplast, dedicada a luminosos e painéis. Paralelamente, ele iniciou a fabricação de carros com o chassi e o motor do Fusca. Em 1969, criou, em São Paulo, a Gurgel Indústria e Comércio de Veículos, com quatro funcionários e produção mensal de quatro automóveis. Era o começo de uma história não tão longa, mas absolutamente heróica, que deixou um saldo positivo de 40 mil carros produzidos e vendidos.
Expectador e personagem da história, Gurgel relembrou, em uma de suas últimas entrevistas, concedida à jornalista Carolina Andrade, em 1994, os tempos iniciais do governo JK: “Quando Juscelino fez o projeto da indústria automobilística no Brasil, eu ajudei. Trabalhei com o Almirante Lúcio Meira e toda aquela turma que formou o Geia. Eu era, naquele tempo, assessor da presidência da Ford. O projeto inicial do Juscelino era o da nacionalização progressiva por peso. De 20% no primeiro ano até 90% ao fim de cinco anos. As multinacionais achavam que não podíamos fazer velocímetros, não podíamos fazer rolamentos, e a nacionalização nunca ia chegar a 100%. Baseados nessa idéia, construímos um projeto de indústria automobilística que pode ser carroça ou não ser carroça, mas que gerou muito emprego e, por meio dela, foi possível também gerar a indústria - de autopeças. Tudo isso foi feito até 1980. O Brasil ia crescendo na produção de maneira bárbara. Chegamos a 1,16 milhão de carros. Agora, devido a essa história de globalização da economia — eu não gosto nada dessa palavra — temos de abrir as portas. E destruir tudo aquilo que foi feito pelo Juscelino."
LINHA DO TEMPO
Em 1980, foi lançada a pedra fundamental da fábrica de veículos elétricos Gurgel, em Rio Claro (SP). O primeiro carro sairia da linha de montagem um ano depois; e o sucesso o tornaria famoso em toda a América Latina, para onde foi amplamente exportado.
Em 1983, Gurgel assina um acordo de cooperação com a Volkswagen, para atuarem conjuntamente na fabricação e na montagem de utilitários Gurgel, em países que recebiam veículos Volkswagen no regime CKD (completamente desmontados).
Em 1985, é criada a Gurgel-Tec, com apoio da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia. Em 1986, é fabricado o Carro Econômico Nacional (Cena), depois denominado BR-800. A empresa vive um período de grande efervescência: a fábrica é ampliada; o número de funcionários cresce; e é construído o Centro Geral de Usinagem (CGU).
O ano se encerra com uma revolução: em dezembro, é apresentado ao mercado o motor de dois cilindros contrapostos, com 800 cilindradas, um marco da Gurgel.
Em 1987, é lançada a Campanha de Abertura de Capital, e 10 mil lotes de ações são colocados no mercado. Dois anos depois, a Gurgel adquire uma área de 650 mil metros na Grande Fortaleza (CE), onde planeja construir sua segunda fábrica.
É a partir daí que começam os problemas, muitos deles tendo como causa o não cumprimento do protocolo de intenções por parte dos governadores Ciro Gomes, do Ceará, e Luiz Antonio Fleury Filho, de São Paulo.
A empresa se abala e inicia vertiginosa derrocada. Em 1993, a Gurgel pede concordata. Apesar disso, no mesmo ano ganha o 70 Troféu Europa à Qualidade, conferido pelo Editorial Office e pelo Trade Lider’s Club, que congrega 12 mil associados em 112 países.
Um dos modelos bem-sucedidos foi o mini BR-800, pensado para ser um carro de altos volumes e que utilizava as mesmas engrenagens de câmbio do Chevette da GM.O design do BR-800 era avançado para a época e a proposta do carro pequeno também ganhava corpo num Brasil em que os altos volumes se voltaram para os carros populares. A abertura do mercado, feita pelo então presidente Fernando Collor de Mello, que reduziu o IPI para carros de 1.000 cm3 de cilindrada, além de tirar as vantagens tributárias do BR-800, pegou a Gurgel fragilizada economicamente - praticamente decretando o fim da endividada companhia nacional de autoveículos. O empresário acusou além do governo federal,o governo estadual do Ceará e de São Paulo do que chamou de "perseguição", que continuaria por mais 10 anos, até que fosse decretada a falência total da companhia.
O sonho acabou morrendo junto com Gurgel, que dedicou quase 30 anos de sua vida ao projeto do carro nacional. De qualquer forma, muitos de seus produtos continuam rodando por aí, conduzindo a história do heróico empreendedor
Em 30 de janeiro de 2009, com saúde há muito debilitada, pois sofria de Alzheimer deixou o mundo.
Gurgel morreu sem que ganhasse em vida o reconhecimento merecido, mas deixou marcas indeléveis de ousadia e 40 mil veículos produzidos ao longo de 30 anos.
A Gurgel e a Embraer são do mesmo ano. Ambas nasceram de sonho e antevisão de homens que acreditavam que era possível fazer carros e aviões com tecnologia nacional. A Gurgel ficou no meio do caminho enquanto a Embraer se tornou a terceira maior do setor no mundo. "Da mesma forma que ajudamos a criar, lutamos para que a Embraer fosse privatizada, pois, sabíamos, esse era o futuro", costuma dizer Ozires Silva, articulista da Gazeta Mercantil.Gurgel não pode ser acusado de omisso nem de fazer corpo mole em defesa das idéias nas quais acreditava. Em meados dos anos 70 Gurgel se envolveu na discussão sobre o Proálcool. Ele se posicionou contra o sistema de produção por considerar que as terras nobres do interior paulista não deveriam ser utilizadas para a cana-de-açúcar e sim de alimentos.
De acordo com o jornalista Fernando Calmon, colunista da Gazeta Mercantil, o engenheiro Gurgel criou algumas soluções técnicas brilhantes, outras nem tanto. A fase mais criativa foi ao lançar, em 1984, seu primeiro automóvel urbano, o Xef, para três passageiros numa única fileira. Tinha apenas 3,12 m de comprimento, mas 1,70 m de largura. Para Calmon, se o empresário Gurgel tivesse mantido sua especialização nos utilitários talvez sobrevivesse, pois chegou a exportá-los para 40 países.
Termina assim a história de um brasileiro que deixou seu legado, e sua proposta de industrialização do país, para uns uma tentativa frustrada, mas para muitos um exemplo de sucesso, coragem e ousadia.

Autor: Hélio Araújo. Aluno do 5º semestre de Relações Internacionais.

Resultado da última enquete:
Pergunta: Qual a sua opinião quanto a unificação do vestibular proposta pelo governo federal?
Resultado: A favor (1 voto)
Contrário (3 votos)
Desconhece o tema (1 voto)

quinta-feira, 2 de abril de 2009

AULA MAGNA COM BERTHA BECKER



No dia 27 de Março, a UFRR teve o prazer de receber como palestrante uma das maiores pesquisadoras do Brasil, Bertha Becker, autora de vários livros sobre a Amazônia. Com este nome de peso nas áreas da Geografia e das Relações Internacionais, o auditório Alexandre Borges ficou pequeno para os amantes do trabalho da Senhora Becker. Vale ressaltar que ela já recebeu uma medalha de honra do Instituto Rio Branco, logo se percebe o valor da sua palestra para as pessoas ali presentes e o esforço da Reitoria para conseguir este pacote de conhecimento.
A palestra “Amazônia: Perspectivas para o III Milênio.”, baseou-se nas estratégias de Bertha Becker tanto para a floresta quanto para as cidades dentro do extenso território. Em uma análise do aproveitamento do espaço Amazônico, a pesquisadora define um novo padrão de desenvolvimento para a Amazônia, isto implica na utilização do capital sem destruí-lo. Segundo Becker esta perspectiva de utilização dos ecossistemas sem esgotar a floresta constitui um grande desafio, porém não é impossível, mas certamente seria fundamental o uso da tecnologia e inovação neste processo.
Interessante abordar a novidade histórica mencionada pela palestrante, a qual afirma que os ecossistemas estão sendo mercantilizados pelos serviços ambientais, sendo assim um recurso de grande importância para o cenário Amazônico. Neste caso é necessário encontrar soluções que não destruam a mata e ainda assim promover o desenvolvimento sustentável na região. Assim, analisa-se a questão da mata densa, esta deve ser preservada, todavia é mais viável a produção não madeireira tal como fármacos experts, a fim de conduzirem as pesquisas cientificas na área.
Já na mata aberta e de transição, Becker salienta a necessidade de gerar riquezas, logo estas áreas precisam ter uma organização e industrialização. Métodos como atribuição de valor a madeira, intensificação da pecuária, estimulo à pequena produção de alimentos e redes de cidades industriais são necessárias ao incentivo para a economia nesta região. Para o cerrado, a industrialização de soja e a intensificação da pecuária também são recomendadas.

No tocante às expectativas da pesquisadora para a região Amazônica, abordam-se as possíveis de resoluções, como os grandes investimentos com foco no desenvolvimento, a importância da cidade-média (Manaus, Pará), a recuperação de áreas alteradas, o incentivo à produção de alimentos pela população indígena. Por último o desenvolvimento da parceria entre os países vizinhos especialmente nas áreas de fronteira. Enfim estas expectativas explanadas pela palestrante direcionam um foco maior ao desenvolvimento econômico da região, não se esquecendo de defender a mata densa citada pela mesma de “coração florestal”.
Visto que a questão da Amazônia é tema corrente nos debates de relações internacionais, as pesquisas da autora Bertha Becker são de relevância aos alunos do curso de RI, principalmente nós da UFRR devido à situação estratégica em que a instituição se encontra. Esta temática sobre Roraima também foi citada pela pesquisadora, esta classifica o estado rico em recursos naturais e culturas indígenas.
Dessa forma a pesquisadora especializada em assuntos amazônicos, Bertha Becker, definiu as perspectivas interessantes para o futuro da Amazônia incluindo na palestra as estratégias, as quais viabilizam o desenvolvimento sustentável na região. Com isso a Senhora Becker encerrou sua palestra com uma proposta para a Universidade de Roraima, a qual incentivava as pesquisas e estudos sobre a região Amazônica.

Escrito por: Gabriella Machado Nobre, aluna do 3º semestre do curso de Relações Internacionais.

quinta-feira, 26 de março de 2009

O Mundo Pós-Americano

Uma intrigante narrativa acerca dos prognósticos da política internacional no século 21 se mescla a uma abordagem de futurologia no mais recente livro de Fareed Zakaria The post-American World.[1] Notório pelo teor crítico de suas análises na revista norte-americana NewsWeek, contra a política externa do governo Bush, Zakaria pendula entre o fascínio pelos novos poderes emergentes e o otimismo acerca do futuro da democracia liberal no mundo. O argumento central de Zakaria é que estamos entrando em um mundo pós-americano, no qual China e Índia representam uma nova perspectiva na configuração global de poder, muito mais disseminado, diluído e até certo ponto democratizado. Não se trata de uma obra sobre o declínio dos Estados Unidos, mas sobre “the rise of the rest”.
O objetivo da obra é instigar estudiosos e leitores interessados nas relações internacionais, e nas ciências humanas em geral, a vislumbrar os delineamentos e formas de um mundo novo: inventado não na ruína imaginada de um império colossal, mas na ascensão de uma ordem de grandes possibilidades. A narrativa inclui experiências pessoais de vida, desde sua saída da Índia em 1982 até suas recentes viagens de trabalho pelos países asiáticos, onde pôde constatar as transformações operadas naquelas sociedades. Apresenta ao longo do livro um enfoque globalista muito pertinente às explicações atuais das Ciências Humanas, mas que carece de uma visão acurada da realidade brasileira e sul-americana.
Conceitualmente, o livro avança ao apontar uma nova forma de conceber a ordem internacional no século 21. Fareed Zakaria contribui ao agregar uma nova perspectiva às discussões já em voga e, assim, a idéia de um mundo pós-americano é adequada do ponto de vista teórico, pois se articula com o discurso pós-moderno, e é operacional do ponto de vista conceitual, pois preenche uma lacuna de definição acerca da nova era em que vivemos. Entretanto, um ensaio que pretende vislumbrar o desenrolar do tempo presente em cenários futuros depara-se com óbices inelutáveis: não conseguir enxergar a eclosão de contingências históricas, nem respaldar e embasar sentenças e afirmativas pelo acesso criterioso às fontes primárias. Por fim, a obra de Zakaria exagera na mensagem triunfalista, de recuperação da hegemonia benevolente, como tentativa de reconstruir a imagem dos EUA após os oito anos de fracasso da gestão neoconservadora do governo Bush.
De qualquer forma, Zakaria dá continuidade a uma tradição de pensadores de grande impacto midiático como Francis Fukuyama, Samuel Huntington e Thomas Friedman. Ademais, o novo governo democrata de Barack Obama torna o livro sobre as idéias e ações dos EUA no mundo de hoje indispensável. Entretanto, não fica incólume à reflexão científica. Caso encontrasse o Sr. Fareed Zakaria, perguntaria: “Dear Mr. Zak, wouldn’t be the post-American world a brand new world with the United States above the rest? "


Escrito por: Thiago Gehre, Historiador de Relações Internacionais, Chefe do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal de Roraima.